Políticas da Conferência

Política de Acesso às Edições Anteriores

As apresentações que compõem as conferências atual e anteriores neste site são de acesso livre e estão disponíveis para leitura gratuitamente, em benefício de autores e leitores interessados.

 

APRESENTAÇÃO

“Continuam, os profissionais de museus, falando apenas de si mesmos e para si mesmos? Que reconhecimento têm eles da sociedade? No universo de trabalhadores, como nos situamos e agimos?”. Com esses questionamentos, a museóloga WaldisaRússio problematizou, em 1989, a função dos museus e a ação política de seus agentes em um período em que grande parte das práticas museológicas e de ensino da Museologia se sustentava em discursos conservadores e, por vezes, antidemocráticos. Exatamente trinta anos depois, essas perguntas ainda continuam apropriadas para traduzir o lugar dos museus e do ensino dos processos museológicos em um mundo marcado pela polarização de posicionamentos políticos, por intolerâncias diversas e pela crescente precarização dos direitos sociais. Observa-se que alguns dos aspectos supostamente consolidados da jovem democracia brasileira e latino-americana novamente estão sob ameaça.

Na década de 1970, quando os países latino-americanos estavam sob a égide dos regimes ditatoriais, o campo da Museologia, impactado pela crítica dos movimentos sociais, movimentos de contracultura e por diferentes discursos de descolonização, apresentou como resposta as reflexões da Mesa Redonda de Santiago sobre o papel social dos museus. Uma das propostas contemplava a criação de uma Associação Latino-Americana de Museologia visando a articulação de diferentes iniciativas que evidenciavam a integralidade do patrimônio e a potência política de múltiplas experiências museológicas.

No contexto brasileiro, o campo dos museus e da Museologia evidenciou profundas transformações a partir do processo de redemocratização, especialmente em virtude dos impactos das discussões sobre a diversidade cultural, o poder da memória e os direitos e as liberdades fundamentais inscritos na Constituição Federal de 1988. Temáticas como o reconhecimento dos saberes das populações tradicionais; o tombamento de bens até então não-consagrados e o registro do patrimônio imaterial; e os debates sobre novos direitos sociais e políticos; contribuíram para a ampliação dos estudos das interseccionalidades de gênero, classe, raça e sexualidade.  A partir dessas transformações pautadas no exercício da diferença, houve um movimento coletivo e de alcance internacional impactando a discussão sobre processos museais populares e comunitários.

Em sequência, tentou-se delinear os contornos epistêmicos dessas experiências que contribuíram para que o Brasil se tornasse um dos principais laboratórios de articulação entre museus e movimentos sociais, fator que propiciou itinerários significativos que resultaram, por exemplo, na instituição da Política Nacional de Museus, na criação de cursos de Museologia nas cinco regiões do país e na eclosão de diferentes pontos e redes de memória e Museologia Social.

Se por um lado essas experiências impactaram o ensino e a pesquisa contemporânea, em outra perspectiva também são profundamente impactadas por uma nova dinâmica de governabilidade, de reformas políticas e de transformações na agenda das políticas culturais em âmbito nacional e internacional. Entre deslocamentos simbólicos e fluxos migratórios, evidencia-se uma crise na democracia representativa com fortes consequências na política da memória, caracterizada por fenômenos transnacionais de opressão, pelo crescimento de grupos ultraconservadores e pelo silenciamento dos espaços de expressão da diferença.

Especificamente no âmbito dos museus surgem debates em torno da repatriação de coleções, de questões éticas sobre os “objetos sensíveis” museografados, das políticas de musealização do efêmero, da cibermuseologia; da representação de minorias nem sempre numéricas e das múltiplas formas de censura nos espaços de memória. Em meio a essas tensões, nas últimas décadas surgiram estratégias de enfrentamento realizadas no campo epistêmico da Museologia nas interfaces com as temáticas dos direitos humanos, o ensino e a ética profissional. Essas experiências evidenciam alternativas de resistência e de reafirmação dos valores democráticos, tornando-se exemplares na reconfiguração de memórias silenciadas e de subjetividades reprimidas.

Esse contexto evidencia um momento fecundo para a problematização do presente e do futuro da democracia. A própria história dos museus e do colecionismo, como fruto do empreendimento colonialista, reveste-se de temática oportuna para refletirmos sobre a geopolítica do conhecimento. Se atualmente existem retrocessos em relação às conquistas democráticas efetuadas nas últimas décadas, também existem resistências e utopias oriundas de diversas práticas culturais. Sem dúvida, surgem desafios para a Universidade, para a Museologia e para os museus: Quais os compromissos da Museologia na atual conjuntura política? Que alterações têm ocasionado na ação do museólogo? Em que medida as transformações na esfera pública evidenciam perspectivas de compreensão de nosso objeto do conhecimento? Quais as novas demandas por musealização, acessibilidade, educação museal e representatividade? Em que medida os professores e pesquisadores do campo da Museologia têm contribuído ou desestimulado estratégias de integração, reflexões sobre a pluralidade da representação e os debates sobre a ampliação/restrição dos espaços democráticos?

Algumas das respostas a esses desafios podem ser encontradas na própria história da Museologia, reconhecendo as estratégias de profissionais que, no passado, ousaram lutar em prol da democratização da política da memória e contra as diversas formas de preconceito. Outras reflexões surgirão dos diálogos promovidos no IV Seminário Brasileiro de Museologia, cuja temática consiste em oportuno convite para que professores, pesquisadores e grupos de interesse reflitam sobre os desafios da área em um contexto de profundas transformações sociais, políticas e epistêmicas.

Evidentemente a realização do seminário em Brasília se transforma em ato fortemente emblemático na medida em que, na capital do país,é onde se decidem questões fundamentais para o futuro da democracia e que, por sua vez, reverberam nos diálogos, nas tensões e nos sentidos atribuídos ao mundo dos museus. Não menos significativo é ser sediado na Universidade de Brasília, instituição que protagonizou alguns dos principais movimentos de resistência e de luta em defesa dos ideais democráticos no Brasil.

O IV Seminário Brasileiro de Museologia pretende se consolidar como um amplo espaço de debates no intuito de compreender em que medida a produção científica tem acompanhado as transformações das últimas décadas e os compromissos assumidos em defesa da democratização do conhecimento. Isso é importante no momento em que surgem iniciativas visando analisar as heranças e os paradigmas da produção do pensamento museológico e suas interfaces com as diversas áreas do saber. As reflexões do seminário pretendem evidenciar os compromissos éticos, os dilemas contemporâneos e as diferentes propostas teóricas e metodológicas que ganham força no campo da Museologia, reconhecendo os processos museológicos como espaços de poder que produzem modelos disciplinadores e práticas, poéticas e políticas libertárias.

 

 

COMITÊ ORGANIZADOR

Profa. Dra. Ana Lúcia de Abreu Gomes [UnB].

Profa. Dra. Andrea Considera [UnB].

Profa. Anna Paula da Silva [UnB/UFBA].

Prof.  Dr. Bruno Melo de Araújo [UFPE].

Profa. Dra. Carmen Lúcia Souza da Silva [UFPA].

Prof.  Dr. Clovis Carvalho Britto - coord. [UnB].

Profa. Ms. Deborah Silva Santos[UnB].

Profa. Ms. Elizângela Carrijo [UnB].

Prof.  Dr. Emerson Dionisio Gomes de Oliveira [UnB]

Profa. Ms. Fernanda Werneck Côrtes [UnB].

Profa. Ms. Gleyce Kelly Heitor [UFG].

Profa. Ms. Isabella Maria de Oliveira Almeida [UnB].

Profa. Ms. Juliana Pereira Sales Caetano[UnB].

Profa. Dra. Monique Magaldi - coord. [UnB].

Profa. Dra. Maria Margaret Lopes [UnB].

Profa. Ms. Marijara Souza Queiroz[ UnB].

Profa. Ms. Luciana Magalhães Portela [UnB].

Profa. Dra. Verona Campos Segantini [UFMG].

Profa. Ms. Silmara Küster de Paula Carvalho[UnB].

 

 

COMITÊ CIENTÍFICO

Dra. Alice Semedo – Universidade do Porto, Portugal.

Dr.Bernardo Javier Tobar Quitiaquez - Universidade de Cauca, Colômbia.

Dr.Bruno César Brulon Soares – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Brasil.

Dra.Cláudia Penha dos Santos – Museu de Astronomia e Ciências Afins, Brasil.

Dr.Clovis Carvalho Britto – Universidade de Brasília/Universidade Federal da Bahia, Brasil.

Dra.Elaine Reynoso Haynes – Universidade Nacional Autônoma do México, México.

Dra.Irina Podgorny – Universidade Nacional de La Plata, Argentina.

Dr.Jesus Pedro Lorente – Universidade de Zaragoza, Espanha.

Dra.Luisa Gertrudis Duran Rocca – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil.

Dra.Maria Lúcia de Niemeyer Matheus Loureiro – Museu de Astronomia e Ciências Afins, Brasil.

Dra. Maria Margaret Lopes - Universidade de Brasília / Universidade de São Paulo, Brasil.

Dr.Miruna Achim - Universidade Autônoma Metropolitana, México.

Dr.Vagner Carvalheiro Porto - Universidade de São Paulo, Brasil.

 

 

COORDENADORES DA REDE DE PROFESSORES E PESQUISADORES EM MUSEOLOGIA - REDE ( 2017 - 2019)

Prof.  Dr. Bruno Melo de Araújo [UFPE].

Profa. Dra. Verona Campos Segantini [UFMG].

Profa. Ms. Gleyce Kelly Heitor [UFG].

 

ESTUDANTES VOLUNTÁRIOS

Ana Clara Borges Costa - UnB
Arthur Marcos Soares Lacerda - UnB 
Athenea Gomez - UnB
Ayana Mahara dos Santos Diniz - UnB
Denize Pereira de Souza  - UnB
Diego Bryan de Jesus Braga - UnB
Edward Louis Picquet III - UnB
Érika Matheus Cunha - UnB
Gustavo Igor Lopes de Jesus - UnB
Isabella Frazão Jorge - UnB
Isabella Wartha Almeida - UnB
Isadora Godoy - UnB
Joaquim Felipe Oliveira e Silva - UnB
Joquebede Oliveira Teles da Silva - UnB
Karla Cristiane Rodrigues dos Santos - UnB
Karolina Abrantes - UnB
Kátila Thailanny Macêdo da Silva  - UnB
Lorenna Oliveira - UnB
Lucelia Garcia - UnB
Maria Cecília Costa de Sousa - UnB
Maria Eduarda de Andrade Filhusi - UnB
Maria Luiza Pereira de Oliveira - UnB
Mariana Barbosa - UnB
Matheus da Cruz Teixeira - UnB
Mayara Rodrigues da Silva - UnB
Pedro Henrique Anchieta Brito - UnB
Rafaela Rocha dos Santos  - UnB
Ramoni Monteiro de Souza Silva - UnB
Rebeca Pires Matias - UnB
Regina de Almeida Fernandes - UnB
Rodrigo Silva - UnB
Rogelia C. T. Souza - UnB
Sandra Suellen Silva de Oliveira - UnB
Tamine Alana Oliveira Pinto  - UnB
Thatiane Silva Rodrigues - UnB
Yara Janne Belo Costa  - UnB
Yasodara Talissa Lemos Brito - UnB

 

GTs

GT 1 - EXPERIÊNCIAS DE CURADORIAS MUSEOLÓGICAS: DESAFIOS DE CONCEITUAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO NOS ESPAÇOS INSTITUCIONAIS

Na atualidade muitos qualificativos acompanham o termo curadoria; desde diferentes tipologias de espaços de memória até os de acervos digitais. O que converge, como ponto de interseção entre as concepções, é a figura do sujeito enunciativo, com poder decisório, o especialista, expertise, cientista, de saber aprofundado, aquele que detém o conhecimento e é capaz de estabelecer uma seleção, ordenação para uma melhor preservação com vistas à pesquisa e à divulgação do conhecimento. A compreensão de base teórica do campo museológico, apesar das poucas publicações sobre a temática, evidencia que o desafio se encontra no entendimento de uma dimensão constitutiva sobre os critérios de seleção, ressignificação, conservação, documentação e comunicação, a partir de uma concepção de ciclo completo. Essa perspectiva deve encaminhar para a reflexão sobre o significado da curadoria museológica, exercida pelo seu profissional que, a partir de seus conhecimentos, se insere nos denominados “especialistas” sujeitos enunciativos, mas que, no entanto, possui um cenário de desafios institucionais no cotidiano das práticas museológicas. A proposição deste Grupo Temático visa gerar reflexão acerca do conceito de curadoria museológica, as especificidades no cenário atual e os desafios institucionais de profissionais como viabilizadores desse ciclo relacionado à materialidade das coleções, as elaborações simbólicas e acionamentos informacionais, bem como a dimensão ontológica do termo curadoria. Os plurais entendimentos acerca dos processos curatoriais, a diversidade metodológica e a necessária reflexão acerca do exercício museológico, enquanto prática curatorial, recomendam a proposta de desenvolvimento de grupo temático, de forma que as pesquisas sobre o tema e os relatos de experiências profissionais possam ser apropriadamente compartilhadas.

Coord: Sabrina Damasceno Silva; Suely Moraes Ceravolo; Maria Lúcia Niemeyer Matheus Loureiro

 

GT 2 - ENSINO DE MUSEOLOGIA E AS PERSPECTIVAS DEMOCRÁTICAS E PARTICIPATIVAS

O ensino da Museologia no Brasil tem atravessado décadas, evidenciando diferentes olhares sobre este campo de conhecimento, propondo distintas articulações interdisciplinares e articulando influências nacionais e internacionais. Herdamos dessa trajetória universitária o desenho de um cenário plural e com multivocalidade para a capacitação técnica, formação profissional e desenvolvimento acadêmico. Nesse contexto, emergem entre muitos outros atributos as metodologias de ensino, especialmente aquelas estruturadas a partir de potencialidades democráticas e participativas e preocupadas em inserir a formação e a pesquisa em Museologia nos enquadramentos que buscam a valorização das ações coletivas, compartilhadas e socialmente construídas. A partir dessa perspectiva, propomos este GT para conhecer, compartilhar e discutir metodologias de ensino que têm direcionado o ensino da Museologia – em suas distintas modalidades – para a construção e valorização de ações democráticas. A nossa inspiração está ancorada em duas variáveis. Por um lado, na proposta do SEBRAMUS 2019 - “Continuam, os profissionais de museus, falando apenas de si mesmos e para si mesmos? Que reconhecimento têm eles da sociedade? No universo de trabalhadores, como nos situamos e agimos?”. Com esses questionamentos, a museóloga Waldisa Rússio problematizou, em 1989, a função dos museus e a ação política de seus agentes em um período em que grande parte das práticas museológicas e de ensino da Museologia se sustentava em discursos conservadores e, por vezes, antidemocrático”. Por outro lado, identificamos entre os professores dessa área, nas últimas décadas, diversas experiências instigantes e desafiadoras para o ensino de Museologia que ainda não foram devidamente abordadas, discutidas e valorizada.

Coord: Maria Cristina Oliveira Bruno; Marcelo Bernardo da Cunha Nascimento; Viviane Sarraf

 

GT 3 - MUSEUS E CULTURA POLÍTICA

Atualmente, no que concerne o diálogo entre cultura e política, não é raro verificar intensa presença do debate sobre a cultura tanto em sofisticados mecanismos de gestão da diferença – editais de fomento, festas populares, processos de patrimonialização etc. –, quanto compreendida como principal instrumento de organização de vida e consumo coletivos de grupos de resistência. Em meio aos debates que envolvem políticas culturais – especialmente pensadas a partir de uma perspectiva dos Estudos Culturais – ganha atenção uma miríade de relações políticas que se constituem entre os equipamentos de cultura e novos projetos de (e para representação da) sociedade. Este GT tem como objetivo central dar continuidade ao debate sobre políticas de gestão de cultura por equipamentos culturais, bem como o recurso da cultura enquanto ferramenta de dobra permanente de sentidos e arranjos do social. Desejamos reunir trabalhos que discutam desde as políticas culturais no Brasil até reflexões críticas sobre lugares comuns do elemento cultural no mundo contemporâneo, tendo o dispositivo de cultura como referência, e/ou passando por discussões sobre processos de patrimonialização, musealização, museus e políticas da diversidade, políticas de tombamento, projetos de cidade, novas tipologias de museus, elementos para uma teoria museológica crítica e correlatos possíveis, além de estruturar-se, sobre o lugar geral (e desafiador) de uma reflexão pós-colonial em Museologia. Interessa-nos ainda a promoção do debate possível entre o fazer museológico e os temas indissociáveis das formas políticas do contemporâneo e suas traduções nos aparelhos de cultura, tendo sua tomada como importante recurso econômico do projeto hodierno de globalização. Neste sentido, entendemos que a percepção do museu enquanto dispositivo (AGAMBEN, 2005) que opera e produz relações de poder interessadas em inscrever sentidos que impliquem em relações de governo sobre e nos indivíduos/sociedade (FOUCAULT, 1979), se adequada aos nossos propósitos de construir uma agenda de pesquisa crítica; não celebrativa das políticas culturais que alçaram o museu ao seu status atual, estando nossos interesses voltados, portanto, mais para questões de teoria, política e poder do que para a eficácia, eficiência e boas práticas de gestão que aprimorem o que é hegemônico. Consequentemente, interessa-nos uma agenda que dê centralidade ao papel político dos museus no contexto de instrumentalização da cultura na contemporaneidade.

Coord: Francisco Sá Barreto; Hugo Menezes Neto; Gleyce Kelly Heitor

 

GT 4 - MUSEUS, GÊNERO E SEXUALIDADE

O Grupo de Trabalho “Museus, gênero e sexualidade” propõe apresentar e debater a pertinência das categorias gênero e sexualidade para o campo da museologia e dos museus. Ao desvelar as relações de poder assimétricas presentes no sistema sexo-gênero em nossas sociedades, percebemos que as diferenças entre mulheres, homens e sexualidades dissidentes são também construções sociais e culturais. Importa-nos problematizar como os museus tem tratado essa questão, a partir de suas práticas e processos, refletidas à luz de uma museologia crítica. Serão pertinentes trabalhos teóricos bem como relatos de experiências a partir de práticas museais e patrimoniais que pensem sobre gênero, sexualidade e suas interseccionalidades à luz de conceitos como patriarcado e heteronormatividade – enquanto sistemas sociais de dominação/opressão – e feminismo – enquanto movimento social e político emancipatório, associados às práticas e processos de musealização e patrimonialização. Neste sentido, serão bem-vindos trabalhos que: - Discutam sobre visibilidade/invisibilidade, rupturas, permanências, narrativas e silenciamentos de temas relacionados a gênero, sexualidade e história das mulheres e populações LGBTQI nos museus e na museologia; - Investiguem a prática social do colecionismo e das coleções evidenciando o protagonismo e ação das mulheres e populações LGBTQI; - Levantem questionamentos sobre implicações de gênero e sexualidade na história dos museus, das coleções e das práticas colecionistas; - Analisem as relações entre pessoas de diferentes gêneros e sexualidades com a cultura material, a memória social e o patrimônio ampliando o olhar para além da dicotomia mulher/homem; - Problematizem a questão de gênero e as formas de representações sociais da mulher e populações LGBTQI a partir das interseccionalidade, considerando as multiplicidades presentes no interior dessas categorias (classe, raça, etnia, geração, nacionalidade, entre outros marcadores possíveis); - Considerem o recorte de gênero e sexualidade nos estudos e pesquisas sobre formação e atuação profissional no campo dos museus e da museologia; - Reflitam sobre os museus e a museologia numa perspectiva descolonizadora e decolonial; - Tragam relatos de intervenções museais voltadas a subverter as assimetrias do sistema sexo-gênero; - Promovam o debate sobre democracia, justiça social e igualdade na diferença. Justificativa da relevância do tema Historicamente os museus estão associados à construção das identidades nacionais europeias, nas quais se expressa uma forma de cidadão pleno: homem, branco, ocidental, heterossexual e proprietário. Da mesma forma, tais instituições nasceram fortemente imbricadas com os colonialismos e imperialismos. Na modernidade ocidental, as identidades construídas a partir dos museus foram marcadamente machistas e sexistas, contribuindo para a opressão e subordinação das mulheres e outras “minorias políticas”, tal qual as populações que podem ser compreendidas como lésbicas, gays, bissexuais, pessoas trans, queer e interessexuais (LGBTQI). Tais posturas marcaram as mentalidades expressas nos museus, em suas coleções, equipes, exposições e ações educativas até os dias atuais. Nesse sentido, coloca-se como especialmente relevante uma análise crítica das instituições museológicas e seus processos como parte de um amplo espectro de agenciamentos e normatizações, tendo como objetivo a coesão social e a uniformidade, no presente e no passado, de forma a calar as vozes subalternizadas. Trata-se de compreender que houve uma transferência europeia da cultura dos museus para as Américas de modo geral. Herdamos um modelo de museu moderno enciclopédico, classificador e hierarquizador que tratava de apresentar as referências culturais em termos nacionalistas, cientificistas, com destaque para os grandes eventos da história, dos heróis e principalmente dos homens. Essas marcas também estão presentes na museologia como campo de conhecimento, sendo necessário examinar criticamente como a produção do conhecimento e a formação nesse campo tem perpetuado essa herança sexista. Ademais, quando ampliamos as identificações de gênero e sexualidade para além da dicotomia mulher-homem, percebemos invisibilidade ainda maior das outras formas de ser pessoa, bem como de temas relacionados à regulação dos corpos. Trata-se de desafiar as lógicas hegemônicas presentes nos museus criando espaços e ações de resistência que garantam a entrada em cena de sujeitos excluídos historicamente dessas instituições. A resistência às hegemonias nos museus pode operar em muitas direções como a diversidade sexual, social, étnica criando cismas e abalos nas políticas culturais elitistas e nacionalistas em que se sustentam a maioria dos museus brasileiros, em maior ou menor grau. Trazer o gênero e a sexualidade para o campo da museologia é uma forma de melhor compreender o museu enquanto dispositivo de reprodução e mudança social. Será possível incrementar os discursos museais, repensar, ressignificar e reescrever a história da relação entre pessoas, coleções e as memórias construídas nessas instituições e processos?

Coord: Ana Audebert; Jean Baptista; Mariana Sombrio

 

GT 5- MUSEOLOGIA, PATRIMÔNIO E TECNOLOGIA EM ESPAÇOS EXPANDIDOS

A pesquisa em Museologia ampliou suas perspectivas de abordagens com o enfoque sobre os usos das tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC) nas formas de produzir e vivenciar o patrimônio, principalmente com o enfoque na análise e desenvolvimento de estratégias para democratização do conhecimento. Estudos que voltam-se a estas tecnologias na contemporaneidade em ambientes museais inter e hiperconectados, como espaços de memória expandidos, on line ou off line. Este grupo de trabalho tem como propósito prosseguir na formação de uma rede para o diálogo e reflexões sobre investigações e experimentos de socialização do patrimônio e concepção de espaços museológicos expandidos através das técnicas e tecnologias da informação e comunicação, mobilizando inclusive perspectivas interdisciplinares para (re)pensar problematizações epistemológicas neste campo. São exemplos destas experiências o uso de Realidade Aumentada, Realidade Virtual, games, softwares, dispositivos interativos e sistemas cognitivos de inteligência artificial que dinamizam a gestão da informação e as exposições nos museus, conectando com as tecnologias sociais que fazem parte do cotidiano dos seus visitantes, os cibermuseus ou museus digitais, exposições on-line, as ações de digitalização, virtualização e imersão do patrimônio em 2D e 3D em ambientes criados e imagens veiculadas na internet com ou sem vínculos com acervos físicos, desenvolvimento de aplicativos, entre outros. Este GT pretende trazer e fomentar debates sobre os desdobramentos e interferências destas práticas nas formas de pensar e planejar os processos museológicos de tratamento e comunicação do patrimônio. São esperadas discussões sobre a articulação entre estas práticas e as teorizações em Museologia, seus novos e os antigos paradigmas, procurando incentivar pesquisas interdisciplinares dentro da perspectiva temática voltada para o patrimônio e os museus na Cultura digital, transmidiática e conectada em rede, visando a socialização de saberes e a (ciber)democracia cognitiva.

Coord: Carmen Lúcia Souza da Silva; Priscila Maria de Jesus; Rita de Cassia Maia da Silva

 

GT 6 - CONSERVAÇÃO DE BENS CULTURAIS E A PARTICIPAÇÃO SOCIAL

O Grupo de Trabalho Conservação de Bens Culturais e a Participação Social tem por objetivo divulgar e promover pesquisas sobre conservação aplicada em instituições tradicionais ou de iniciativa comunitária, assim como mediar debates e experiências sobre processos de conservação já realizados ou em curso e que tenham por finalidade a preservação de acervos culturais. A Conservação abrange a Conservação Preventiva, a Conservação Curativa, e a Restauração já conceituada pelo Grupo de Conservação do Conselho Internacional de Museus (ICOM-CC, 2008). Diante de novas abordagens do campo museológico, acrescentamos a Conservação Participativa com o intuito de oportunizar a reflexão de atividades de conservação em espaços não tradicionais. Os fatores de degradação agem de forma isolada ou conjunta devendo ser cuidadosamente analisados. Desta forma, a conservação tem a finalidade de prevenir e estabilizar os processos de degradação e manter as condições adequadas dos acervos, visando o acesso seguro às gerações atuais e futuras, respeitando os materiais originais. Assim, a pesquisa é imprescindível para diagnosticar as causas de degradação, reconhecer a tipologia dos materiais que compõe os acervos, assim como verificar quais os meios possíveis à sua permanência. Os temas a serem contemplados por esse Grupo de Trabalho são os aspectos teóricos e práticos da conservação, a pesquisa através da utilização de técnicas e métodos científicos, além de novas tecnologias em conservação. Justificativa A conservação de acervos e obras individuais vem crescendo e ganhando certa visibilidade nos últimos anos, proporcionando orientação para os profissionais da área, na implantação de metodologias de trabalho e de execução de procedimentos técnicos com aplicação de novos materiais e métodos. Contudo, ainda é necessária a divulgação de pesquisas, concluídas ou em execução, com o objetivo de fomentar as discussões entre os pesquisadores e os profissionais da área acadêmica sobre questões teórica e prática específicas da conservação e que ajudem as instituições museológicas a alcançar seus objetivos de conservar, investigar e difundir seus acervos a fim de estar “a serviço da sociedade e do seu desenvolvimento” (ICOM, 2001). Considerando que as pesquisas em conservação são complexas e dinâmicas, o Grupo de Trabalho em Conservação de Bens Culturais Móveis é um espaço importante para a reflexão científica da área.

Coord: Eduardo Leite Krüger; Neide Aparecida Gomes; Clara Landim Fritoli

 

GT 7 - ARQUITETURA DE MUSEUS: PERSPECTIVAS E DESAFIOS PARA SUA DEMOCRATIZAÇÃO

Boa parte do patrimônio cultural preserva-se e apresenta-se em diversos tipos de museus. Muitas destas instituições – tanto públicas como privadas – foram implantadas em imóveis já existentes, que tiverem de ser adaptados para sua nova função. Muitos outros museus foram instalados em edifícios já concebidos para abrigá-los. Junto ao dever de custodiar e apresentar ao público as coleções e os seus próprios edifícios, os museus têm a importante responsabilidade por adaptar constantemente seus espaços a múltiplas demandas curatoriais, técnicas, sociais e culturais do presente. Esta sessão temática coloca o tema da arquitetura de museus como uma especialidade da arquitetura, desde uma postura ética que compreenda tal materialidade como uma mediação dos processos de democratização de acesso, fruição e problematização da ação museal e de suas dinâmicas processuais. Convida, numa perspectiva de estímulo a abordagens interdisciplinares, a arquitetos, museólogos, engenheiros, restauradores, historiadores, arqueólogos, cientistas sociais e demais professionais relacionados com o mundo dos museus a apresentar e analisar projetos arquitetônicos e intervenções de ampliação, reabilitação, restauração, requalificação em edifícios de museus, casas museus, museus de sítios e centros de interpretação. Propõe-se a discussão em torno às relações entre lugar, memória, temáticas, acervo e público e a mediação por meio da arquitetura de museus, expografia e processos projetuais. Também são bem-vindas análises da história dos edifícios que foram destinados a museus, incluindo-se as relativas a intervenções neles realizadas, em diálogo tanto com as teorias do restauro que as orientaram, quanto com demandas por expansão física e por peculiaridades curatoriais específicas à sua ação museal. O day after desses projetos é também um tema de relevo, pois coloca em questão a gestão e manutenção dos museus. Destaca-se também a importância da revisão crítica da arquitetura contemporânea globalizada, que hipervalorizou desmesuradamente a autoria das intervenções arquitetônicas em museus, fomentando a elitização e/ou a mercantilização da cultura. Por último ressalta-se o compromisso da arquitetura de museus com a qualificação dos entornos urbanos, com a preservação da memória, dos edifícios e das coleções, com a educação plural e inclusiva e com a fruição democrática dos bens culturais.

Coord: Luisa Gertrudis Durán Rocca; Paulo Cesar Garcez Martins; Anna Beatriz Ayroza Galvão

 

GT 8 - MEMÓRIA, PATRIMÔNIO E PROCESSOS MUSEOLÓGICOS COMUNITÁRIOS ENTRE POVOS INDÍGENAS NAS AMÉRICAS

Nos últimos anos os povos originários nas Américas vêm atuando em diversas iniciativas que correspondem à pesquisa e registro das suas memórias e à patrimonialização e à salvaguarda das suas referências culturais. O advento de museus indígenas, museus tribais e/ou museus étnicos de caráter comunitário, nascidos de processos educacionais e de mobilização política destes povos, bem como de centros de documentação e casas de culturas em seus territórios, indicam que a preocupação destas coletividades com a construção social da memória é uma demanda política do/no presente. Inúmeras questões surgem com o envolvimento das comunidades indígenas em projetos museológicos de construção de espaços específicos que representem as suas culturas em primeira pessoa e que busquem ressignificar seus ritos, conhecimentos e memórias, ao narrar sua história em seus próprios termos. Neste sentido, este GT convida pesquisadores indígenas e não indígenas para discutir algumas dessas questões: a relação entre memórias e mobilizações políticas, os efeitos da patrimonialização dessas culturas; o modo pelo qual essas experiências traduzem seus repertórios culturais e comunicam as suas especificidades, reveladoras de suas "cosmopolíticas", seus modos ecológicos e relacionais de interação com os humanos e extra-humanos (animais, plantas, espíritos, objetos, etc); a relação com pesquisadores, escolas indígenas e associativismo. A partir da análise dessas experiências, o GT visa discutir quais as suas contribuições para uma reflexão no campo museológico e das ciências humanas e sociais.

Coord: Alexandre Oliveira Gomes; Eliete Pereira; Alexandre Oliveira Gomes

 

GT 9 - MUSEOLOGIA SOCIAL E DIREITOS HUMANOS

A importância do debate e da reflexão acerca da Museologia Social em consonância com os Direitos Humanos se faz mais do que necessário nos dias atuais, tendo em vista a importância do tema na construção de redes de mentalidades, capaz de fortalecer uma sociedade mais justa, uma vez que ainda predomina o pensamento colonialista, patriarcal, racista e homofóbico diante de grupos minorados em nosso país. Cabe lembrar que os direitos são atribuídos por lei. O Artigo 1º da Declaração Universal dos Direitos Humanos diz que “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade” e o Artigo 2º “Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou outra, origem nacional ou social, fortuna, nascimento ou outro estatuto”. Isto posto, o GT Museologia Social e Direitos Humanos pretende reunir pesquisas que investiguem estratégias de enfrentamento realizadas no campo epistêmico da Museologia nas interfaces com a temática dos direitos humanos e a ética profissional. Para tanto, privilegiará propostas que discutam experiências em Museologia Social como estratégias para reafirmação da diversidade cultural, questionamento das desigualdades e defesa dos valores democráticos; a relação entre processos museológicos e tentativas de restituição de histórias silenciadas, subjetividades reprimidas e conhecimentos populares. A proposta é de, a partir de diferentes metodologias e referenciais teóricos construídos na confluência entre políticas públicas, práticas comunitárias e ações museológicas e museais, proporcionar um espaço de reflexão sobre a relação entre Museologia e Direitos Humanos, problematizando o papel da Museologia em um contexto em que de modo geral há um retrocesso nos direitos e na democracia no país.

Coord: Mario de Souza Chagas; Marcelle Pereira; Silmara Küster de Paula Carvalho

 

GT 10 - PATRIMÔNIO E MEMÓRIA DA ALTERIDADE EM COLEÇÕES MUSEOLÓGICAS DE ARTE E CULTURA POPULARES

Este GT tem como proposta congregar trabalhos sobre colecionismo, percursos, estudos de performances culturais e representações artísticas em coleções de museus, com ênfase nos acervos relacionados a expressões de cultura popular. Serão apreciados principalmente, mas não exclusivamente, trabalhos que abordem musealizações de acervos de arte e cultura populares e seus assemelhados, tais como objetos de cultos de matriz africana e de origem indígena, que apresentem aspectos não usuais, ou que causem estranheza no contexto tradicional da formação de coleções museológicas. Interessam-nos trabalhos que abordem os conceitos de arte e cultura populares, com possíveis implicações na política de constituição de acervo e nos sistemas de documentação e conservação das instituições museológicas, a exemplo de objetos que são alterados em sua forma física ao longo de sua trajetória no museu, por serem postos em interação constante com a realidade social circundante, ou por tomarem parte em eventos do calendário festivo das cidades em que se inserem. Interessam-nos igualmente, acervos relacionados a temáticas incomuns ou que levantem questionamentos relativos à patrimonialização, documentação e conservação, em contraposição aos interesses e anseios da sociedade envolvida com o bem em questão. São bem vindos trabalhos de pesquisa e relatos de experiência que subvertem ou põem em discussão a origem e aquisição de acervos de arte e cultura populares que fujam aos padrões tradicionais de constituição das coleções museológicas. Resultados de disputas, em campos de tensão criados e performados no interior do mundo museológico, esses objetos espelham visão de mundo que têm se modificado, alterando também as instituições que os abrigam.

Coord: Vânia Dolores Estevam de Oliveira; Ricardo Gomes Lima; Elizabete de Castro Mendonça

 

GT 11 - HISTÓRIA E MEMÓRIA DOS MUSEUS E DA MUSEOLOGIA NO BRASIL

O Grupo de Trabalho História e Memória dos Museus e da Museologia no Brasil é dedicado à apresentação de pesquisas finalizadas ou em andamento sobre escritas da história e processos de construção de memórias sobre museus e práticas museológicas levadas a cabo por agentes do campo da Museologia em experiências institucionais, produções científicas, formulação de conceitos, pensamentos, etc., numa abordagem de trajetória individual ou de grupo, de análise institucional e biografia de coleções e objetos museológicos. Dedica-se também à divulgação de trabalhos voltados à cientifização das práticas museológicas e sua institucionalização em cursos de graduação e pós-graduação, privilegiando também uma abordagem de análise institucional, de trajetória individual ou de grupo. Enfim, o GT se constituirá em um espaço de divulgação, reflexão e debates sobre as diferentes contribuições (teóricas, empíricas e acadêmicas), institucionalizadas ou não, individuais e em grupo que constituíram o campo museológico brasileiro e atualmente são objeto de estudos na História, Museologia, Antropologia, Sociologia e outras áreas do saber. O GT justifica-se pela possibilidade de constituir um fórum de divulgação, reflexão, debates e trocas de produção científica sobre a história e memória dos museus e da Museologia no Brasil. Através desse espaço é possível não apenas que se conheçam os trabalhos sobre o tema que se tem desenvolvido no Brasil, mas também se fortaleça esse campo de pesquisa que muito tem crescido e contribuído para a elaboração de políticas e diretrizes no âmbito dos museus, da Museologia e do Patrimônio.

Coord: Henrique de Vasconcelos Cruz; Priscilla Arigoni Coelho

 

GT 12 - PERSPECTIVAS CONTEMPORÂNEAS EM TEORIA MUSEOLÓGICA

Em sua atualidade, a Museologia tem por desafio a resolução da tensão entre seu desejo de autonomia e sua tendência por metodologia interdisciplinar. No Brasil, episódios como a nova classificação de seus cursos pelo CINE Brasil 2018 evidenciam a ausência de consenso sobre o lugar epistemológico da disciplina, posto que seu efeito – associado aos de outras classificações institucionais – faz a Museologia flutuar entre ciências sociais aplicadas e humanidades. Levando em conta o teor das críticas que se seguiram à classificação, é notável a diversidade dos pontos de vista sobre o que seja a Museologia, fenômeno que parece indicar a ausência de acordo epistemológico – quer dizer, ausência de articulações teóricas em torno de um objeto franco – capaz de integrar os rasgos teóricos dispersos pelo campo no país. Por outro lado, o termo musealização tem sido, talvez, a Idea-força mais promissora para o campo. Entendemos, a partir das pesquisas recentes na área, que o conceito se encontra no entremeio entre o campo museal (ligado ao trabalho prático do museu) e a amplitude do campo museológico (que se refere à disciplina Museologia), o que nos leva à tomá-lo como um conceito chave para a discussão epistemológica aqui evocada. Sensível a essa problemática, interessa a esta edição do GT Perspectivas Contemporâneas em Teoria Museológica, recolher e fomentar o debate de trabalhos e pesquisas que considerem o processo de musealização ponto de partida para a urdidura de um acordo epistemológico para a Museologia. Sobre esse processo, seu investimento é duplo: interessa-lhe tanto novas perspectivas sobre a relação entre museu e processo de musealização quanto a eleição e articulação de um conjunto de termos e teorias capazes de produzir, a partir desse processo, uma analítica. Esse esforço (de acordo epistemológico) que, esperamos, ocupará outras edições desse GT, deseja, também, se constituir como resposta à questão formulada pela temática do IV Sebramus, qual seja, sobre os compromissos da Museologia na atual conjuntura política. Nesse sentido, o GT Perspectivas Contemporâneas em Teoria Museológica sugere que um desses compromissos seja com a teoria.

Coord: Alexandro Silva de Jesus; Bruno Brulon Soares; Daniel de Souza Leão Vieira

 

GT 13 - EDUCAÇÃO E COMUNICAÇÃO EM TEMPO DE TRÂNSITO: TRANSFORMAÇÕES E IMPACTOS SOCIAIS

De acordo com Paulo Freire (1978), o tempo de trânsito é o movimento necessário entre a ruptura do antigo paradigma para o novo, ainda em construção. O tempo de trânsito, para Freire, não seria uma simples mudança, pois promove novos temas, novos paradigmas. A transitividade crítica altera as justificativas míticas por pesquisas baseadas em metodologias preocupadas com revisionismo e diálogos, no lugar de polêmicas. Substitui explicações mágicas por princípios causais, procurando testar paradigmas. No âmbito da Museologia, citamos a experiência cubana de Marta Arjona, pioneira na América Latina, a qual incentivou a criação de museus municipais em parceria com as escolas locais. A autora nos propõe questionar como usar a tecnologia em prol do desenvolvimento da cultura diante dos escassos recursos nos museus da América Latina e Caribe. Arjona apresenta como alternativa o uso criativo dos meios disponíveis em diálogo sensível com a população local (ARJONA;2000). Ainda no que diz respeito à aplicação e transformação social, corrobora com essa linha de pensamento o educador Paulo Freire quando questiona a quem se destina a tecnologia e os seus avanços. Por sua vez, também é importante indagar se todos possuem a mesma qualidade de acesso a Internet, conforme questionado por Nestor Canclini, uma vez que não podemos desconsiderar às desigualdades sociais e o cerceamento da indústria cultural aos patrimônios culturais produzidos pelas diversidades étnicas . Nesse sentido, o uso das Tecnologias Sociais (TS) é uma metodologia desenvolvida para resolver um problema da população local, a tecnologia é reaplicável é o caminho utilizado por países considerados em desenvolvimento, e uma alternativa de financiamento para ações culturais como as exposições e ações educativas. No caso Brasileiro, no tocante à sociedade, é importante citar Waldisa Russio que apresenta a ideia de socialização do patrimônio, para além de uma comunicação sem pessoas e de uma socialização sem a sociedade. Para a autora, os museus deveriam, então, começar suas transformações proporcionando um espaço que inicie o processo pela comunidade e para a comunidade (RÚSSIO;1987). Tal pensamento é explorado por Felipe Lacouture (2002) quando entende ser o museu o coadjuvante nos processos das transformações da sociedade, sendo a população local a protagonista. Para promover ações de diálogo e provocar a emancipação crítica na sociedade, é importante questionar a finalidade das ações culturais educativas e expográficas na atualidade, especificamente no que diz respeito à relevância social de tais ações, incluindo-se análises críticas junto aos patrimônios e aos espaços de musealização. Deste modo, reflexões sobre a relação entre as ações expográficas, as ações educativas e culturais em museu junto à sociedade vêm despertando estudos diversos, incluindo pesquisas sobre Interatividade, Tecnologia Social (TS) e Cibermuseologia. No âmbito da Educação em museus, é importante lembrar da nova proposta apresentada ao cenário museológico, para além da Educação Patrimonial: a Política Nacional de Educação Museal, PNEM. A PNEM, com os seus princípios e diretrizes, apresenta uma nova possibilidade para as atividades educativas em instituições museológicas. Contudo, estudos críticos que analisem as divergências e aproximações entre a PNEM, a Educação Patrimonial, Educação permanente, Educação em Patrimônios e Ação Cultural para Liberdade, entre outros, são apresentados ainda timidamente no campo da Museologia. Assim sendo, promover reflexões críticas sobre os impactos sociais das ações educativas e comunicacionais acerca do exercício museológico justifica a presente proposta de grupo temático, espaço destinado ao compartilhamento de relatos de experiências profissionais de metodologias e de pesquisas teóricas.

Coord: Marcela Maria Freire Sanches; Silvilene  Morais

 

GT 14 - CORPOS FEMININOS NEGROS: REPRESENTAÇÃO NOS ESPAÇOS DE MEMÓRIA

Diante do processo de mudanças políticas que afetam o campo dos Museus e da Museologia brasileira, quando alcançamos conquistas em torno da valorização e do investimento no campo da prática museológica, que culminou no aumento significativo de cursos de graduação e Pós-Graduação em Museologia e provocou um novo, porém tardio incômodo dos vários grupos sociais ainda não contemplados enquanto representatividades nos espaços museais do país e se veem nesse contexto, ameaçadas de desaparecerem, senão, correndo o risco de estagnarem-se em meio ao caos social que ronda o país. Nesse sentido, é a ausência de uma epistemologia que fomente a reflexão sobre a pluralidade de ideias advindas da diversidade cultural e decerto, de contradições e também de desajustes no campo da teoria e por conseguinte da museologia contemporânea, que abre como fenda mesmo vácuo, e adentra o sentimento de instigar, provocar ou mesmo de inserir as questões de gênero, classe, raça e sexualidade a partir das intersecções que dialoguem numa perspectiva de decolonizar corpos negros, a partir dos não lugares simbólicos que produzem e reproduzem memórias quando colonizam e ocultam narrativas femininas, ao mesmo tempo em que a de falta de identidade e pertencimento surgem com os rasgos da subjetividade entre os diversos sujeitos e seus pensamentos. Assim, o Grupo de Trabalho, “Corpos femininos negros: representação nos espaços de memórias”, se interessa por discussões no campo das narrativas, das memórias do feminino em diferentes espaços alternativos, comunitários, que a partir da construção de uma Museologia democrática, reflita em torno de fenômenos cujos elementos simbólicos materiais e imateriais, instiguem a produção científica no campo dos Museus.

Coord: Maria das Graças de Souza Teixeira; Joana Angélica Flores Silva; Janaina Couvo Teixeira Maia de Aguiar

 

GT 15 - MUSEOLOGIA E ARTE EM DIÁLOGO: ARTICULAÇÕES NECESSÁRIAS EM TEMPOS DE FRAGMENTAÇÃO

Este grupo de trabalho tem como principal objetivo estimular reflexões sobre as confluências da arte e a museologia evidenciadas tanto no meio universitário como no âmbito extramuros, incluindo debates sobre processos de democratização dos saberes. Propomos analisar as realidades museais e museológicas vinculadas a essas confluências e seus possíveis desdobramentos. Neste sentido, o GT estimulará discussões que envolvam aspectos teóricos e práticos dos diálogos entre arte e museologia, abrangendo cenários institucionais e independentes como:   museus e galerias;  pontos de memória; exposições e curadorias; bienais e outros eventos de arte; mercado da arte; gestão de acervo; critérios e procedimentos de musealização;  políticas e ações de conservação; estratégias patrimoniais; docência, pesquisa e extensão em cursos de graduação e pós-graduação; laboratórios; processos e criações artísticas oficiais e alternativas, incluindo, dentre outras, manifestações vinculadas com o espaço urbano e expressões ligadas ao universo popular; além dos métodos e práticas educacionais realizadas nas instâncias aqui elencadas.  As comunicações deverão abordar as confluências mencionadas a partir de metodologias interdisciplinares que aceitem a rica diversidade de concepções/noções de arte e de museologia, querendo assim promover discussões epistemológicas que deixem transparecer as contribuições recíprocas entre as áreas. Como resultado, desejamos dar visibilidade à produção de antigas e novas narrativas entre arte e museologia e ao processo crítico decorrente, abrigando os possíveis dilemas, confrontos e sobreposições de ideias, os quais podem enriquecer a pesquisa, a conservação, a documentação e a comunicação museológica.

Coord. Anna Paula da Silva; Neila Dourado Gonçalves Maciel; Mariela Brazón Hernández

 

 

DESIGNER

Maíra Zannon

Ilha Design

 

MARCA

Imagem da página inicial da Conferência

Em 1996, o artista visual Bené Fonteles realizou uma intervenção na escultura A Justiça de Alfredo Ceschiatti. Fonteles é um dos artistas contemporâneos mais importantes da história da arte brasileira, com forte presença e atuação em Brasília, onde vive. Dedicado às políticas de proteção da natureza (fundou em 1987, o Movimento Artistas pela Natureza), às cosmogonias e políticas indígenas, Fonteles colocou um cocar dos índios Karajá, de Tocantis, sobre a célebre escultura de Ceschiatti, criada em 1961, para a Praça dos Três Poderes. Naquela ocasião, ao lado de representantes de diferentes povos indígenas, o artista leu o Manifesto de Revogação do Decreto 1775/1996, publicado pelo Ministério da Justiça, que alterou o processo administrativo de demarcação das terras indígenas. Luta capitaneada, naquele momento, por diferentes organizações e pelo “Conselho de Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Brasil” (CAPOIB). Numa coalização entre ato poético e ativismo, a intervenção tornou-se um efêmero momento de encontro entre a história de Brasília, sua configuração social e política, com a extensa luta de minorias oprimidas. “Dotando a Justiça branca da sabedoria ancestral indígena (...) Fonteles doa sentido à ação política, em uma camada específica de significação do ato da representação dos povos indígenas” (Pugliese, 2013, p.30). Tal gesto “mitopoético”, que surge como o encontro e o conflito entre culturas, serve-nos como inspiração para a identidade visual do IV SEBRAMUS. Inspiração que busca rememorar o longo processo de resistência e de reafirmação dos valores democráticos; de visibilizar as reconfigurações de memórias silenciadas e de subjetividades reprimidas.

Referência: PUGLIESE, V. Os Sudários de Bené Fonteles, o Chemin de la Croix de Henri Matisse e as Stations of the Cross de Barnett Newman: pathos e anacronismo na historiografia da arte. Tese de Doutorado. Programa de Pós-graduação em Arte. Universidade de Brasília, 2013.

 

 

4 Sebramus - 2019

 

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Curso de Museologia - Mus

Faculdade de Ciência da Informação- FCI

 

 

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