Última alteração: 2019-06-02
Resumo
Uma casa-museu é um tipo de museu instalado num imóvel que originalmente teve como função principal a de morar. Nesses espaços, os visitantes buscam vivenciar uma realidade teatralizada para se aproximar da personagem que lá habitou. No caso de casas-museu de arquitetos célebres, esse quadro cresce em complexidade, especialmente em função do caráter paradigmático dessas residências. Nelas, o autor - antigo morador - divide o protagonismo com o próprio ambiente edificado, constituído invariavelmente por “casas-manifesto”, edificações que ultrapassavam sua própria função utilitária ao se constituírem em valiosas oportunidades de experimentação e manifestação de proposições técnicas, espaciais, formais e estéticas que outorgavam à obra um caráter exemplar. Da mesma forma que nos monumentos visitáveis, nas casas museu de arquitetos a primeira e mais importante peça da “coleção” é a própria arquitetura.
Passadas décadas de ocupação pelos arquitetos proprietários, o fenômeno de musealização dessas casas-manifesto tornou-se prática recorrente, concretamente após falecimento de seus autores. É o caso da Casa Estúdio (Cidade do México, 1948) de Luis Barragán (1902-1988), aberta ao público em 1994; da Glass House (New Canaan, 1945-1949) de Phillip Johnson (1906-2005), aberta ao público em 2007; da Casa Modernista (São Paulo, 1927-1928) de Gregori Warchavchik (1896-1972), aberta ao público em 2007; da Casa de Vidro (São Paulo, 1950-1951) de Lina Bo Bardi (1914-1992), aberta ao público em 2010; e da Casa das Canoas (Rio de Janeiro, 1951-1953) de Oscar Niemeyer (1907-2012), aberta ao público em 2017. Nelas, o conhecimento e a fruição sobre o espaço são mais relevantes que a aproximação a um acervo ou à narrativa de intimidade de seus moradores, como ocorre em casas-museu convencionais.
Embora a arquitetura moderna tivesse como um dos seus principais fundamentos oferecer soluções de habitação popular eficientes e em grande escala, foi o tema da moradia burguesa unifamiliar que se destacou, ao longo do século XX, na discussão e na práxis dos arquitetos modernos. Por meio desses projetos residenciais tidos como exemplares, a vanguarda moderna divulgou e defendeu suas convicções urbanísticas, arquitetônicas, artísticas, tecnológicas e ideológicas. A concepção de “casas-manifesto” foi, em razão disso, uma prática recorrente no âmbito do movimento moderno. Dessa forma, o ideal social original dos arquitetos modernos deu lugar à concepção de serviços e produtos altamente sofisticados e inacessíveis – econômica e culturalmente – às camadas populares da sociedade.
Com essa série de residências icônicas saindo da esfera privada, tornando públicos os seus ambientes ao serem musealizadas, entra em cena um potencial instrumento para a democratização da arquitetura e do saber arquitetônico, ainda tão elitizados. O presente trabalho busca analisar a efetividade – ou não – dessa democratização, apurando informações sobre o contexto urbano, acessibilidade a esses locais, a proposta museológica, e a gestão desses equipamentos culturais (custo da entrada, horários de visitação, etc.) nos cinco estudos de caso elencados.