Última alteração: 2019-06-02
Resumo
As reflexões sobre as relações contemporâneas entre museus e processos de descolonização revelam novas formas de representação, reapropriação e ressignificação de objetos e coleções, como direitos indígenas à ancestralidade. Acima de tudo, elas apontam para o patrimônio numa perspectiva polifônica, em que museus e os povos indígenas procuram se articular a partir de diferentes concepções e percursos, numa perspectiva intercultural.
Esse fazer museal “com os outros” decorre por um lado de uma reviravolta teórico-epistemológica na confluência entre os campos da antropologia e da museologia na pós-modernidade. Tais processos resultam também da pressão dos movimentos sociais, iniciada a partir da segunda metade do século XX.
Em várias partes do mundo, os povos indígenas têm protagonismo em projetos de revitalização cultural que se revestem de caráter político na defesa de seus direitos.
No Brasil, há 240 povos indígenas. Inúmeros destes povos se preocupam com a revalorização de suas culturas e a aproximação com os museus e coleções tem revelado diferentes experiências.
Afinal, se a pergunta sobre como ressignificar as coleções etnográficas é ainda atual, como efetivamente envolver esses “outros” como protagonistas em processos que rompam com o colonialismo e busque um equilíbrio de poder dentro do museu?
Na comunicação apresentamos duas experiências relacionadas a processos museais compartilhados: a oficina de canoa com do povo Katxuyana e relação de um grupo Kaingang com a cidade gerada com a “pacificação” indígena.
Os Katxuyana, ameríndios Karib, somam cerca de 380 pessoas que vivem no norte do país (PA). Seu território, demarcado em 2018, atualmente está ameaçado pela proposta de uma usina hidrelétrica qual?. Valorizar sua própria cultura é estratégia política entre os Katxuyana. Aqui relatamoscomo objetos musealizados foram apropriados pela educação indígena para fins de revitalização de uma tradição – a confecção de canoas – a partir da experiência da etnoeducação entre os Katxuyana. Os Kaingang estão no sudeste e sul do Brasil. Em São Paulo sofreram a violência da “pacificação” para a colonização do oeste do estado. Entre genocídio e etnocídio estão a cidade fruto da colonização e o museu como lugar de resistência cultural.
Queremos discutir o papel do museu e do processo colaborativo para que a instituição cumpra seu papel contemporâneo nos acordos legítimos que sustentam os processos democráticos.