Última alteração: 2019-07-07
Resumo
Os estudos clássicos da Museologia enquanto campo científico definem os museus enquanto instituições onde são preservados e comunicados vestígios da existência humana através da contextualização de objetos. No entanto, levando em conta as reflexões sobre a memória na elaboração de criativos fenômenos museológicos, a presente pesquisa propõe uma nova dimensão de conceber "museus". Inspirados nas alíneas das experiências museológicas, desenvolvemos um quadro teórico e conceitual de base empírica, respaldado no método etnográfico, do evento-território da "fechação" no Beco do Rosário em Salvador durante o Desfile Cívico de Dois de Julho na Bahia. O trabalho desvela a formação efêmera de um território de memória, defendida enquanto “museografia da fechação”. Esse território funciona como lugar de sociabilidades e resistência de pessoas dissidentes sexuais e gênero durante as performance dos balizadores de fanfarra na Bahia. Através da investigação original intitulada “Etnografia da Fechação: Performances de Homens Negros Balizadores de Fanfarra na Bahia”, evidenciou-se que este lócus da "fechação" (conceito êmico que se refere a esquema de ação/reação frente a corpos performáticos que tensionam aspectos de raça e gênero durante o específico espetáculo de rua) se configura num território implicado de significados e memórias de diversas pessoas negras e LGBT na Bahia. A memória acionada por meio da "viadeiro" produz uma arquitetura de representações e identificações sócio espaciais no centro histórico e comercial de Salvador. Com base na Antropologia da Performance, Museologias Social e Afetiva, Estudos Queer e da Pós-Colonialidade, teceremos considerações sobre esse fenômeno, inspirados nos conceitos de evento-território e performances museais arbóreas e rizomáticas, trazendo luz as problematizações do acesso e clandestinidade à memória, as violências de gênero, os estereótipos raciais e o poder da performance de ressignificar atos considerados desprovidos politicamente em símbolos de (re)existência.