Última alteração: 2019-06-28
Resumo
Os trânsitos políticos influenciam diretamente as ações e a atuação dos museus e instituições culturais em suas atividades cotidianas, e, assim sendo, não seria possível indicar que a relação entre museus e política poderia, por qualquer motivo, ser dissociada. Seja a partir da elaboração de projetos com o intuito de captar recursos para garantir a realização das atividades para as quais o museu se destina ou seja em relação ao pensamento e às relações sociais que estão inquietando a população em um dado momento, os museus são, sem dúvida, palco também de relações de poder que precisam ser observadas e compreendidas.
Sendo assim, no intuito de perceber quais as tramas que tecem as representações do patrimônio cultural afro brasileiro e quais narrativas da memória negra são evidenciadas em alguns contextos, neste trabalho procuro apresentar uma experiência vivenciada no Museu Paço do Frevo, a partir de um recorte voltado para uma experiência de negritude na composição histórica do Frevo em seus diferentes universos. De acordo com Antônio Motta e Luiz Oliveira, que, em 2013, publicaram um artigo intitulado Patrimônio Cultural em discussão: novos desafios teóricos metodológicos, atualmente estamos vivenciando um fenômeno da patrimonialização das diferenças culturais, haja vista as recentes políticas públicas de patrimônio voltadas para segmentos sociais historicamente negligenciados, e quando pensamos, sobretudo, no patrimônio material e imaterial afrodescendente, essas políticas, embora insuficientes, são bastante numerosas. Este fenômeno é responsável, segundo Motta e Oliveira, por uma revisão nas linguagens utilizadas para apresentar o legado cultural destes segmentos e, no caso da cultura negra, é responsável por questionar uma forma de representação, predominante nos museus, que privilegia um passado servil e limitado ao mundo do trabalho e das práticas religiosas. Especificamente no caso do Frevo, o debate sobre a contribuição de personagens negros e negras em sua composição é recente; ainda não existem trabalhos específicos sobre o tema; porém, diante de uma vasta bibliografia a respeito do Frevo em suas diferentes manifestações, é possível perceber os modos como essa presença pode ser observada de forma bastante profícua, ainda mais se pensarmos como a classe trabalhadora no início do século XX - formada por homens e mulheres negros e mestiços, herdeiros do pós-abolição - é importante para a formação do Frevo como expressão cultural, além da própria presença dos capoeiras, figuras basilares para a elaboração do frevo-dança. A necessidade de participação dos atores envolvidos nessa trama que são as relações raciais no Brasil está diretamente conectada com algumas funções inerentes ao museu: informar, formar, educar, entre outros. Sendo assim, que tipo de informação podemos apreender sobre a herança e a presença afro-brasileira no Frevo, tendo em vista a ausência histórica da voz de seus protagonistas na constituição de sua história? Que temas e artefatos são apresentados como parte desse legado e que memória pode ser construída a partir deles?