Última alteração: 2019-06-02
Resumo
O gênero pode ser compreendido como uma estrutura, uma dimensão central da vida social, por meio da qual corpos são categorizados, estabelecendo hierarquias e legitimando opressões. Essa simples assertiva, uma constatação recorrente do pensamento feminista, quando inserida no campo dos Museus e da Museologia, evidencia desafios de monta. Buscando compreender esse cenário, apresentamos os resultados de pesquisas voltadas a realizar uma cartografia dos trabalhos acadêmicos sobre gênero, bem como de exposições que adotaram a temática “mulher” como recorte.
Foram levantadas 661 produções monográficas realizadas nos cursos de Bacharelado em Museologia no Brasil, bem como 283 dissertações de mestrado e 70 teses de doutorado em programas de pós-graduação que apresentavam alguma relação com a Museologia, no período de 2004 a 2017. Dentre os 1014 trabalhos levantados, apenas 9 abordam os temas gênero, mulheres e feminismo (0,8% do total). Cabe destacar que, no que concerne à autoria desses trabalhos, cerca de 75% foram escritos por mulheres. Dessa forma, embora os debates sobre museus, mulheres, gênero e feminismo tenham se ampliado na última década, ainda é tímida a introdução desses temas em monografias, dissertações e teses.
Por sua vez, o levantamento de exposições com o tema “mulher”, entre os anos de 2011 a 2017, totalizou 22 exposições. Foi possível constatar que nos museus tradicionais as abordagens mais frequentes dessa temática foram a ‘mulher artista’, a ‘beleza’ e a ‘sensualidade’, destacando quase sempre mulheres brancas e de classe média. Já nos museus comunitários predominam as exposições que mostram a realidade de mulheres negras e periféricas, suas memórias, vivências e experiências. Contudo, ainda que processos comunitários tenham trazido o protagonismo das mulheres e temas como violência, assédio e afins, essas abordagens são pouco recorrentes no quadro geral, nos mostrando a necessidade de uma museologia feminista e interseccional, onde marcadores sociais da diferença, como gênero, raça, sexualidade, geração e classe, sejam considerados de forma integrada.
Compreendendo a Museologia como campo onde teoria e prática deveriam se retroalimentar, espera-se que o feminismo interseccional, evidenciado nas exposições em museus comunitários e alimentado por saberes pautados na decolonidalidade, inspire as reflexões acadêmicas da Museologia, ainda pouco voltadas a essas discussões.