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Descolonização do olhar em arte decorativa: exercícios didáticos museais
Última alteração: 2019-06-02
Resumo
A presente comunicação visa apresentar reflexões sobre as ações didáticas desenvolvidas no ensino de Arte Decorativa, no curso de Museologia da UFBA, a partir de 2002. Os exercícios didáticos museais visam colocar em diálogo matérias-primas, elementos estilísticos e ornamentais das coleções de arte decorativa, constituídas de forma hegemônica, com outras produções artísticas anteriores aos processos de conquista e colonização da América, assim como destacar nas produções coloniais a presença da diversificada mão de obra local, suas referências e técnicas construtivas, através da explicitação dos sujeitos produtores. Exercícios que se vinculam às abordagens analíticas patrimoniais relativas à descolonização dos museus, com base na biografia dos sujeitos nos objetos, como forma de estimular a explicitação da pluralidade das matrizes que compõem os acervos, evidenciando memórias ausentes, silenciadas e/ou excluídas pelos processos de registros hegemônicos das memórias. A tarefa de descolonizar o olhar implica em suscitar uma série de reflexões sobre os acervos de mobiliário, cerâmica e metalurgia - pensando a partir do estabelecimento de diálogos horizontais com as histórias de vida de objetos e dos sujeitos liados aos objetos. Implica em uma tomada de posição crítica frente aos acervos hegemonicamente estabelecidos, que ainda se ancoram na chegada, conquista e estabelecimento dos europeus nas Américas como marco fundante de processos civilizatórios. O ensino e a prática museal no campo da arte decorativa estiveram durante muito tempo aliados aos modos de pensar colonial e imperial, privilegiando concepções artísticas europeias, sacralizando objetos de exceção. Incorporar a dimensão material das sociedades tem sido um dos grandes desafios para os museus de arte decorativa, ainda que tenham pontuais, raras e excelentes experiências neste sentido. Desafiador também tem sido o campo da docência uma vez que esta se atrela aos acervos, resultantes das permanências de padrões e gostos coloniais-eurocentrados, não somente no campo artístico, mas também no campo das mentalidades. O termo colonial não se aplica exclusivamente aos processos de governança colonial, mas ao campo epistemológico, à permanência do conhecimento eurocentrado.
Palavras-chave
Arte Decorativa; Descolonização do olhar; Museus; Decolonialidades.