Última alteração: 2019-06-02
Resumo
Tradicionalmente, os museus ligados à temática antropológica constituíram seus acervos e suas pesquisas com base nos conhecimentos adquiridos por meio do método etnográfico, ou seja, a partir do olhar do pesquisador sobre as diferentes populações estudadas. Assim, os produtos gerados por esses museus (publicações diversas, exposições, oficinas) estão pautados nessas visões constituídas a partir do olhar do curador, do especialista da área que detém os conhecimentos atrelados à temática.
Porém, nos últimos anos, esses museus têm mudado sua perspectiva, abrindo espaço para que as populações indígenas e tradicionais participem dos processos decisórios no que diz respeito à formação de coleções e na maneira de difundí-las ao público. Parte desse processo está ligado à prática da curadoria compartilhada, a qual tem como premissa agregar as comunidades no decurso dos debates sobre a elaboração e montagem de exposições em todas as suas etapas.
Nesta perspectiva, o MAE-UFPR teve duas experiências de curadoria compartilhada, a última em 2018 com os Mbya Guarani. Estas experiências se foram fundamentais para que, durante o processo de curadoria, as comunidades deixassem de ser apenas objeto de estudo e se tornassem agentes no exercício de pensarem sobre o olhar do outro sobre si próprios.
A partir das reuniões de curadoria com os representantes dos Mbya Guarani, por exemplo, eles perceberam que o acervo sob a guarda do museu não possuía peças as quais eles consideravam fundamentais para a exposição. Assim, a partir das lacunas nas coleções, eles confeccionaram mais materiais, permitindo que a equipe realizasse, ainda, fotografias e filmagem nas aldeias. Desta forma, para além do processo de curadoria, os Mbya Guarani participaram, também, do processo de musealização.
Apesar de ainda ser um caminho novo para o MAE-UFPR, essas primeiras experiências abriram novas possibilidades para que o museu reflita sobre a formação e divulgação de suas coleções. Para os museus em geral, em especial os de Antropologia, partilhar o lugar tradicionalmente ocupado pelo especialista aponta para uma nova forma de trabalhar seus acervos. Em outras palavras, a integração das comunidades no processo de musealização a partir do que o próprio grupo considera importante preservar, traz diferentes perspectivas, tanto para a instituição no que diz respeito à entrada de objetos no acervo e na elaboração de suas exposições, quanto para a comunidade, que se torna sujeito de sua própria história.