Última alteração: 2019-06-28
Resumo
Este trabalho é parte de minha pesquisa no Mestrado Profissional de Ensino de História (ProfHistória/UFPA), e que visa buscar estratégias para a abordagem da temática indígena em sala de aula. O campo de pesquisa-ação é uma escola da rede pública estadual em Belém do Pará, junto à discentes do turno da noite, que sofrem ainda mais limitações que os outros por essa condição. O objetivo geral da pesquisa ora apresentada é discutir o espaço da temática indígena no ensino de história, visando contribuir para sua ampliação, nos termos da Lei 11.642/2008 (que determina o ensino de indígena, além da africana e afro-brasileira). Com esse objetivo abordamos a pertinência do patrimônio arqueológico, fonte histórica de cultura material, como ferramenta para o ensino de história. Especificamente relativo às sociedades preexistentes à colonização européia na Amazônia e as principais fontes sobre o período, os vestígios arqueológicos da cultura material, entendidos como fontes históricas que informam sobre a longa duração e ocupação dos povos originários na região amazônica.
Entre os objetivos específicos está a consolidação do projeto em forma de um produto educacional. Procuramos construir uma proposta passível de ser executada junto a alunos e professores da rede pública de ensino. Em linhas gerais, a ideia é tornar acessível a esse público, uma ferramenta de pesquisa, troca de saberes e ressignificações acerca do patrimônio arqueológico da região amazônica, através do mapeamento e curadoria de informações disponíveis no meio digital, que poderão ser mobilizados como recursos didáticos relativos à temática indígena. São questões com espaço reduzido no livros didáticos, e por vezes presentes de forma problemática. E também é ainda um patrimônio pouco acessível à maioria das pessoas, seja as que vivem na zona urbana e tem pouco ou nenhum contato com coleções musealizadas, seja as que vivem longe de museus e eventualmente próximas a sítios. Não excluindo a possibilidade de atividades a partir da visitação em museus físicos, refletimos sobre uma ferramenta complementar, que proporcione a principalmente a docentes e discentes, e público em geral o acesso a uma cartografia digital de informações, aberta a alimentação colaborativa, assim como a formas interativas de fruição e apropriação, tais como exposições virtuais.
A partir da Escola dos Annales, cresce a valorização das fontes não-escritas para a historiografia, incluindo os vestígios arqueológicos, que figuram como fontes primárias, documentos da presença e das práticas de sociedades humanas que os fizeram, utilizaram, e até que os descartaram. Mas além disso, em muitos casos esses vestígios materiais podem e devem ser tomados como documentos que informam também sobre o presente, pela relação viva que as comunidades de hoje mantém com elas.
Nesse sentido, a aprendizagem da história vai muito além da sala de aula, especialmente na atualidade, de modo que a educação escolar precisa aprender a lidar com esse contexto. Daí este projeto, agregando ferramentas da Museologia e educação museal, tem a expectativa de estimular os alunos, com orientação de professores a buscar e lidar com informações sobre a história mais ativamente, e não apenas em sala, ou seja, imergindo no tema, praticando pesquisa, e compartilhando resultados. A proposta pretende prioritariamente ser uma forma de agregar informação sobre o patrimônio arqueológico regional, contemplando a perspectiva da educação patrimonial, no uso do ciberespaço como meio de aproximação a esses espaços diversos de memória, como os sítios arqueológicos e museus ligados a esse tipo de patrimônio. Para tanto pretendemos criar uma cartografia digital, em formato de aplicativo e com viés colaborativo, que possa ser utilizado como plataforma de pesquisa e ferramenta de ensino sobre a Amazônia Indígena e o Patrimônio Arqueológico Amazônico, e que possibilite o uso do ciberespaço como meio de aproximação a diversos lugares e bens de memória
Essa necessidade corresponde a um contexto de muitas perdas para o patrimônio amazônico. O incêndio do Museu Nacional é simbólico deste momento, e enfatizamos aqui o descaso quanto aos bens ligados a História Indígena em particular. As perdas de patrimônio amazônico sob guarda daquela instituição são em amplo sentido, incalculáveis. E ainda, encerramos o ano de 2018 com a notícia de que fecha as portas os Museu do Marajó, resultado de pouca atenção do poder público, e que enfrentará dificuldades para reabertura em condição de segurança.
A consolidação do projeto em uma ferramenta digital, preferencialmente em forma de aplicativo acessível a celulares, corresponde à necessidade de registro e compartilhamento dos resultados, e que também os discentes participantes possam ver um resultado palpável de seus esforços numa linguagem que se torna cada vez mais familiar a eles, usada então como forma de acesso e construção de conhecimento. Assim como meio de aproximação entre a sala de aula e espaços diversos de memória, como os sítios arqueológicos, museus e outras representações do patrimônio cultural amazônico. Como forma de refletir acerca da contribuição que pode trazer este conteúdo para a sala de aula, no viés de um saber escolar voltado para a formação de um cidadão historicamente consciente da sociedade em que vive e da diversidade que a compõe e das lutas que a atravessam.
A curadoria de conteúdo se norteará pelo princípio da relação do passado com as questões do presente, tais como a legitimação de direitos originários. Assim como a relação dessas sociedade do passado com a paisagem e com a natureza, sobretudo por que os sítios arqueológicos espalhados pela Amazônia marcam formas distintas dessa relação e de construção da paisagem. Usos diversificados do espaço, vestígios de culturas diferentes, apropriações diversas pelas comunidades atuais. Abre-se a perspectiva do multiculturalismo, assim como da contranarrativa, de que a história do Brasil não começa na chegada dos europeus, mas que havia aqui sociedades e desenvolvimento. E que os povos indígenas não fazem parte do passado apenas, mas existem e resistem ainda hoje
A cartografia de informação se inicia a partir de pesquisa, que pode ser efetivada através de projeto escolar, e agregação dos resultados em uma plataforma, marcados por região e tipologia, e aberto a colaboração continuada, através por exemplo, de ferramentas de georeferenciamento, onde usuários, com ênfase para professores e seus alunos possam adicionar informações sobre sítios e outros patrimônios arqueológicos de suas localidades. O uso da cartografia de informação seria utilizada em processos de pesquisa, interpretação e seleção de informações relativas aos temas indicados (iconografias, acervos digitalizados, notícias, links, sites, materiais didáticos, mapas). Como ferramentas de apoio para promover a participação de alunos e professores da rede públicas, serão de ajuda ferramentas como as disponibilizadas pela plataforma Google for Education (RA, óculos 3D, Google Earth), podem dar suporte a essas atividades. Com apoio de programadores, cogitamos a construção de cenário virtual, lúdico e inspirado na arquitetura e cosmologia amazônica, para trabalhos escolares voltados para o tema., incentivando o trabalho de docentes e discentes.
A consolidação desse processo esperamos se dar na disponibilização dessa cartografia na internet, como ferramenta de pesquisa sobre os temas, passível de atualização posterior., usando a ferramenta digital como veículo de promover, em parceria com projetos escolares, leituras discentes sobre esses bens culturais. Nesse sentido, a experiência de apropriação pode se consolidar em uma ação museal, no espaço escolar, e ampliando para o ciberespaço, na forma exposição digital, sem que se pretenda falar de um museu no sentido estrito, mas de compor uma experiência expositiva, agregando informações disponíveis, com dados secundários de toda forma.
Num contexto escolar de ensino público que atende perfis diversificados, esperamos que a abordagem desses temas em sala, a ser facilitada pelo meio digital através de site ou aplicativo, ao longo do processo possibilite contribuir na formação, oportunizando a discussão da identidade como algo que vai além da individualidade, mas que se liga a uma coletividade em algum nível (familiar, comunitário, étnico), acreditando na importância das questões identitárias na atualidade, e mais agudamente em relação à questão indígena. Assim como no desenvolvimento do pensamento crítico e conscientização sobre direitos sociais a partir da questão dos direitos dos povos originários e da suas lutas atuais.