Última alteração: 2019-06-30
Resumo
O presente artigo tem por objetivo analisar as representações das lideranças femininas da Irmandade de Santa Bárbara Virgem presentes nas narrativas expostas na sala de exposição intitulada “Sala do Nagô” do Museu Afro-Brasileiro de Sergipe (MABS). Os referidos espaços refletem as relações existentes entre presenças e silenciamentos como mecanismos de comunicação expográfica ou estratégia institucional de apenas registrar a presença de um segmento afro-religioso local, sem possibilitar narrativas de empoderamento das memórias históricas da presença e participação feminina na formação e na continuidade dessa irmandade centenária, fundada por africanos libertos e que teve, no início do século XX, mais precisamente no ano de 1911, a substituição das lideranças masculinas fundadoras pelo comando feminino das “lôxas”. Todavia, desde a sua fundação, a presença de africanas libertas exercendo atividades na irmandade fora constante, a exemplo de Tá Joaquina Maria da Costa ( posterior fundadora do Terreiro Filhos de Obá) ,Taketé, Caetana, Lucinda (Ìya Iná – pela África), Lucrécia, Luiza, Ignácia,Sá Chica, Calu. Os silêncios dessas narrativas na concepção expográfica acaba por apenas a registrar sem informar , através de imagens fotográficas, de forma factual, pontual, as existência das três líderes femininas da irmandade ao longo do século passado e início desse. Refletir esses silenciamentos, na proposta desse artigo, trata-se antes de tudo, de uma forma de reparação como condição não só de empoderamento feminino, mas também, numa perspectiva decolonial no campo museológico, pensar as memórias dessas mulheres africanas e suas descendentes, suas subjetividades na construção e continuidade de suas tradições ancestrais através de novos corpos femininos negros que passam a comandar a cena religiosa, exercendo lideranças e mantendo vivos os ensinamentos, as concepções de Áfricas, as narrativas nagôs, suas visões de mundo , seus conflitos, o que , de fato as tornam líderes. Pensar os silenciamentos dessas memórias no MABS, apesar da presença e existência de um módulo e de uma sala dedicada ao nagô sergipano é o que propõe , como forma de contribuição ao museu, à memória, mas também repensar e discutir do ponto de vista teórico conceitual a relação existente entre presenças e silenciamentos em espaços de memórias.