Última alteração: 2019-06-02
Resumo
Este trabalho consiste em uma análise sobre os gestos epistemológicos produzidos no sentido de constituir os processos de (re)inscrição de sentidos, sob a alcunha de musealização, como objeto de estudo de uma pretensa ciência social – a museologia. Esta reflexão considera centralmente dois trabalhos: “The Birth of the Museum: History, Theory, Politics”, escrito por Tony Bennet, que parte de uma perspectiva dos estudos culturais, e “Passagens da Museologia: a musealização como caminho” publicado recentemente por Bruno Brulon, o qual tem realizado esforços em potencializar o status científico da museologia. O argumento consiste em apresentar a musealização enquanto um objeto privilegiado para a reflexão sobre os museus, mas sob uma perspectiva que ilumina sua condição de tecnologia, no sentido foucaultiano do termo, de inscrever sentidos sobre a realidade na condição de atender à alguma emergência contemporânea. Este conceito amplia a potência do museu ao passo que vem sido concebido de forma a legitimar suas intervenções sobre sujeitos e espaços sem depender da materialidade convencional do museu. Para tanto, a concepção museológica sobre a racionalidade política do museu, que se materializa por meio da própria musealização, será discutida em meio à crítica dos estudos culturais produzida por Tony Bennett que percebe um paradoxo nos museus entre suas práticas e respectivas premissas democratizantes. Enquanto na museologia há harmonia entre musealização e democratização, nos estudos cultuais (em Bennett, mais particularmente) esta consiste em um paradoxo que deixa traços na subjetividade que produzida a partir desses lugares. Neste sentido, este trabalho aponta para um entendimento da musealização como um expediente de governamentalidade, o qual consiste menos em um instrumento de produzir democratização a partir da conferência de sentido ao que antes estava subalternizado, e mais em um expediente de regulação de sujeitos e grupos sociais.