Última alteração: 2019-06-28
Resumo
Lúmen é, para a óptica, uma unidade de medida de fluxos luminosos. De origem latina, a palavra é entendida como “luz como meio de iluminação” e adotando uma interpretação iluminista, passamos a entender iluminação como forma de conhecer, de ver. Nos apegamos então a etimologia da palavra para tratarmos da projeção, técnica que utiliza da luz, da imagem, tempo e do espaço, que se aplica sobre suportes variados que passam a ser modificados, transformados e ressignificados, defendendo que o uso de tais práticas “ilumina” questões referentes ao seu suporte, no sentido de ser capaz de trazer a tona discussões adormecidas. Desta forma, o presente artigo visa, em um primeiro momento, apresentar um breve histórico da mídia em questão e sua utilização em suportes arquitetônicos, tendo como objetivo o levantamento de discussões a respeito do uso da projeção enquanto mídia artística e comunicacional, como estratégia de comunicação do patrimônio edificado, apresentando as possibilidades destes usos na comunicação de monumentos e museus assim como na transformação de seus suportes, defendendo a hipótese de que a projeção, enquanto manifestação artística, é capaz de ativar potenciais simbólicos de seu suporte. Para isto, tomaremos como plataforma de observação o Museu Nacional Honestino Guimarães, que em diferentes ocasiões foi suporte para projeções. Para este trabalho, utilizaremos a projeção All Seeying Eye, da artista polonesa Joanna Rajkowska, executada em 2013. Destacando o uso de tais práticas sobre objetos monumentais tombados, cuja alteração é interditada, levando em consideração ainda os sentidos presentes nos monumentos e na arquitetura e como estes são comunicados e re-comunicados dentro do contexto contemporâneo, visamos questionar os processos de ativação de um monumento, objeto referencial de memória, por meio de práticas artísticas. Levando em consideração as noções de atualização e ressignificação, entendendo o processo de atualização como uma ação que reaviva o sentido inicial da construção, recomunicando-o por vias extrínsecas ao monumento, que acabam por depositar ou ativar uma nova camada de sentido, atualizando-o. Já o processo de ressignificação ocorre quando há alteração e revisão do sentido inicial, uma vez que o monumento é um signo. Defende-se então que a projeção, como linguagem e uma ação é uma estratégia de atualização do patrimônio, levando em consideração as problemáticas do tombamento e da preservação, que por vezes atuam “engessando” os usos destes suportes como objetos comunicacionais e de memória, a projeção possibilita uma ressignificação do objeto sem ferir sua estrutura. Sendo assim, o uso de tais estratégias possibilita novas formas de difusão do conhecimento, construção de público, e comunicação do patrimônio edificado dentro do espaço urbano. Para trabalhar esta premissa, levantamos questões, de maneira exploratória, por meio da revisão bibliográfica e análise dos usos da projeção na arquitetura no contexto contemporâneo, prática que vem se tornando comum, principalmente no exterior em eventos como as “Festas das Luzes” (Fête des Lumières) e “Noites Brancas” (Nuit Blanches), considerando ações de atualização dos monumentos, ação que reaviva o sentido inicial da construção, recomunicando-o por vias extrínsecas ao monumento, que acabam por depositar ou ativar uma nova camada de sentido, atualizando-o; e de ressignificação do suporte, processo que altera e revisa o sentido inicial do suporte como signo. Passando ainda pela projeção como tecnologia, linguagem comunicacional e prática artística além de noções de comunicação e marketing cultural, levantando possibilidades de utilização de tais práticas nas comunicações do patrimônio brasileiro.