Última alteração: 2019-06-28
Resumo
Neste artigo delinearei o campo dos museus brasileiros propondo reflexões sobre o estudo de raça e a interseccionalidade de gênero e raça no intuito de identificar a representação das mulheres negras. O nosso objetivo é problematizar o contexto museológico brasileiro a partir da segunda metade do século XX na perspectiva de gênero à luz dos estudos raciais e encontrar pistas e sinais que possibilitem evidenciar a existência das mulheres negras. Na primeira parte, analisarei os museus brasileiros mais tradicionais, criados a semelhança dos museus europeus que apresentam a “retórica da modernidade e a lógica da colonialidade” e que reproduzem a colonialidade do conhecimento e dos seres. Eles apresentam características moderno/colonial, eurocentrada, enciclopédia e hierárquica racial que criaram os marcadores de civilização e incivilização, sendo os europeus no primeiro grupo e os povos não europeus, os colonizados - negros e indígenas os primitivos ou selvagens, desqualificados em suas existências. Às mulheres de um modo geral também não foram identificadas nos museus como protagonistas da história, produtora e/ou selecionadora de artefatos históricos. Neste sentido, buscarei as pistas e sinais das mulheres negras, pois, por agregarem a dupla alteridade de raça e gênero são o “invisível do invisível” nos museus, além de construtoras de outras memórias sobre a história nacional. Na segunda parte, apresentarei um diálogo entre a museologia social e o projeto decolonial, ou seja os pressupostos da “museologia decolonial” entendido como um projeto político-acadêmico-educacional que possibilita a partir do alargamento do conceito de museu; do direito à memória; da participação de comunidades e movimentos sociais e a atenção às questões sociais contemporâneas reconhecer ações e processos museológicos decoloniais construídos na longa tradição de resistência das populações negras e que assim, permitem revelar as mulheres negras como protagonistas e produtoras de conhecimento.