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Registros Imateriais do Patrimônio Cultural LGBT
Última alteração: 2019-06-28
Resumo
O presente texto propõe uma reflexão sobre ações de visibilidade e silenciamento do patrimônio imaterial e museus de pessoas travestis, transexuais, lésbicas, bissexuais e gays - LGBT. Tal proposta justifica-se pela necessidade de visibilizar as potencialidades patrimoniais desta comunidade a partir da análise dos artigos 215 e 216 da Constituição Federal (1988), da Convenção para a salvaguarda do patrimônio Cultural Imaterial (Unesco, 2003) e do Dossiê Iphan I – Círio de Nazaré (Iphan, 2006). Para tal, objetiva-se analisar os registros do patrimônio cultural, avaliando os processos de inclusão e as ausências. Dessa forma, serão analisados dois estudos de caso para discutir esta problemática: a) O Concurso Miss Brasil Gay de Juiz de Fora; b) A festa das Filhas da Chiquita. Por fim, considera-se o desejo ao direito à memória por parte da população LGBT, expresso nos exemplos apontados, bem como as ações de negligência e higienização das políticas patrimoniais. O concurso Miss Brasil Gay de Juiz de Fora é um dos mais antigos do país, foi registado pelo município em 2007. Ao todo, foram realizadas 37 edições, desde sua criação. O concurso também é um importante evento turístico e faz parte da rota gay friendly internacional, aumentando o fluxo de turistas e, conseqüentemente, gerando empregos e renda, em especial para a população LGBT. Este bem cultural é uma importante ferramenta para a superação de preconceitos em relação às sexualidades não normativas. A festa das Filhas da Chiquita é um momento de resistência e de encontro das múltiplas sexualidades paraenses. Nela, pessoas LGBT de todo o Estado participam como devotos aguardando a santa passar, em seguida à passagem, inicia-se uma das maiores festas profanas do Círio. Esta manifestação imaterial completou, em 2018, quatro décadas de história. Há décadas é organizada por Elói Iglesias, um importante ativista paraense. Portanto, essa manifestação criada pelo movimento LGBT paraense, a contragosto da Igreja, acompanha as festividades do Círio há quarenta anos, mas, por ser considerada profana pelos religiosos, é expurgada e difamada anualmente.Por fim, a partir dos estudos de caso apresentados, pretende-se refletir sobre os motivos da ausência da população LGBT nesses registros, compreendendo como se move essa prática higienizadora no campo patrimonial.
Palavras-chave
LGBT, Democracia, Sexualidade, Museologia, Museus